Eu amo a dança natural que vai se tecendo no Caminho a cada passo dado em direção a Santiago de Compostela.
Amo os primeiros dias nervosos do grupo, amo o canto dos pássaros ao amanhecer,
o corpo entre dores se ajustando ao ritmo, as pessoas já sentindo a vontade de caminhar em dupla, logo sozinhas.
Amo buscarmos pelas flechas amarelas juntas e cantar em círculo abraçados a benção do nosso dia.
Escutar as queixas dos que dizem: queria ter trazido menos coisas na mochila, queria ter seguido o checklist, que liberdade é caminhar mais leve.
Sorrio em silêncio e penso: te entendo, já estive aí.
E talvez quando viajo de um continente a outro ver a família, sigo igual .
Amo dar propósito a tudo e mostra-los como estar atentos aos sinais.
Amo o parar para escrever, comer um bocadillo sentada no chão em um campo de flores, ou em um café simples em uma casa medieval no meio do nada, mas com as pegadas de peregrinos do mundo todo.
Amo os sons, as cores, os campos, os bosques, os céus movendo-se sobre nós em seu menu de surpresas: sol, vento, chuva, tudo é bálsamo para a alma .
Amo parar em um pequeno vilarejo e ao tirar a mochila das costas sentir o suor escorrer, amo encher as garrafas de água nas fontes e o barulho das botas caminhando no chão de terra, eternas.
Amo conhecer pessoas novas e o silêncio que se produz em algum momento ao caminharmos juntas, justo antes de fazer a pergunta mais importante: Porque você está aqui?
Gosto de perguntar a mim mesma isso uma e outra vez a cada vez que me proponho a ir ao Caminho, e também escutar as respostas dos demais.
É como se Deus estivesse falando conosco através do coração do mundo.
Esse pulsar que bate igual dentro de todos nós, na busca profunda do que já está dentro mas precisa que algo de fora nos desperte e mostre.
O caminho é uma grande flecha te apontando de volta para você.
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